sexta-feira, 13 de junho de 2008

Projeto Guerreiros Urbanos na sede do Teatro Popular União e Olho Vivo

Sábado, 7 de junho, o Teatro Popular União e Olho Vivo promoveu em sua sede (Rua Newton Prado, 677 - Bom Retiro, São Paulo /SP) um intercâmbio entre o TUOV e a Cia. Caracol de Teatro Popular. Na troca permanente de experiências com grupos populares egressos de longínquos bairros,

a Cia. Caracol de Teatro Popular realizou o ensaio aberto de cenas da peça "Aluga-se Para Igreja" e o TUOV, em seus mais de 40 anos de valorização da cultura popular, brindou os "Caracóis" com o ensaio do espetáculo "Sapé Tiaraju".
Tanto o espetáculo do TUOV, quanto da Cia. Caracol, têm estréias marcadas para setembro/08.

Ao final do evento, o dramaturgo Asdrúbal Serrano, da Cia. Caracol entregou ao diretor do TUOV, César Vieira uma cópia do livro "Oficina de Iniciação ao Teatro Popular" (nome provisório), que relata os 18 anos de atuação da Cia. Caracol e convidou o diretor do TUOV para fazer o prefácio da nova obra.
Na finalização do encontro, os grupos fizeram a leitura do manifesto de inauguração da sede do TUOV, em 1983. O texto parte de uma adaptação de um discurso proferido por Martin Luther King. Conforme executado naquele ano, a Cia. Caracol de Teatro Popular convidou o TUOV a reproduzir, em conjunto, a mesma leitura realizada na inauguração da sede. O texto foi publicado pela primeira vez no livro "Em Busca de um Teatro Popular", de César Vieira, recém editado pela FUNARTE.

Texto original da inauguração da sede do Teatro Popular União e Olho Vivo, em 1983.

Eu tenho um sonho:
De estar sempre junto com meu povo aprendendo.
Eu tenho um sonho:
De estar, permanentemente, junto com o meu povo, trocando experiências.
Eu tenho um sonho:
De estar todo o tempo junto com o meu povo, praticando nossa arte.
Eu tenho um sonho:
De estar nos bairros populares, nas ruas, nas praças, nas comunidades eclesiais de base, nos clubes de várzea, nas sociedades amigos de bairro, nos sindicatos, nos presídios, nas escolas de samba, nos colégios de periferia, caminhando em busca de uma arte nossa, popular, participante, coletiva e libertadora.
Eu tenho um sonho:
De que nossa prática de teatro e música nos bairros populares e nas organizações de trabalhadores é um ato de fé, amor e ódio. É amor pelo oprimido e ódio pelo opressor. É integração do poeta com sua trova! Do guerrilheiro com seu fuzil! Do metalúrgico com sua forja!
Eu tenho uma certeza:
De que a arte do povo sufocada, esmagada, massacrada, deve ser resgatada.
Eu tenho uma certeza:
De que o resgate de nossa arte popular é tarefa primordial.
Eu tenho uma certeza:
De que do contato dos muitos que vêm de fora, do exterior, com nossa vida, nossa realidade, no correr do tempo, nasce uma arte nova.
Eu tenho uma certeza:
Que a defesa do desenvolvimento dessa arte é trabalho essencial.
Eu tenho uma certeza:
Que a estética do povo nasce nas ruas, nas praças, nos forrós, nas fábricas, nos campos de futebol, nas lutas sindicais, no bumba-meu-boi, no samba, nas feiras, na mescla da arte negra, índia e do imigrante.Eu tenho uma certeza:
Que essa arte – mescla do popular, que ainda resiste, com a arte do imigrante – traz em si a beleza universal e a profundeza das transformações sociais.Eu tenho uma certeza:
Que essa arte nova é bela, poética, simbólica, ao mesmo tempo que é simples, coletiva e transformadora.
Eu tenho uma certeza:
De que o homem verdadeiramente homem é aquele que sabe transformar o sonho em realidade.

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